quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

MEU ANJO



Meu anjo tem o nome que me deu,
E as asas brancas como a neve das montanhas.
Com suas vestes coloridas, segue brilhante pelos céus do meu paraíso,
Com sua espada reluzente, translúcida.
Tem uma altura que não sei mensurar,
Uma beleza que não sei descrever.
Meu anjo desce poderoso, e sinto-o poderoso.
Seu grande amor me fascina,
E me faz chorar como qualquer criança choraria de emoção.

Celso Orsini

                                                   
                                                      Parte I

Inverno de 2013

Quando perguntei a Peter sua opinião sobre os nossos anjos da guarda, ele me posicionou com várias teorias, mas não soube o que me dizer ao final.
Em nossos conhecimentos ocultistas não existiam lugares para eles sobreviverem, a não ser como simples arquétipos, representações simbólicas de forças universais, jamais entidades morfológicas divinas e reais.
Para avançar, teríamos que lidar com a nossa fé, vencermos o ceticismo e discutirmos questões teológicas.
Peter, no momento, dedicando-se a outros cursos profissionalizantes, com o aumento de suas consultas terapêuticas, estava exausto.
E eu, com tantos problemas externos para resolver e a marginalização crescente que desabava em meu ambiente de trabalho, também andava esgotado e irritado.
Depois de alguns dias de sóbrias discussões, paramos por aí.
Nossas mentes já cansadas de divagar, não conseguiam mais racionalizar tais questões.
Perdemos o prazer intrínseco da questão e o foco do debate se perdeu, e Peter se desinteressou.

                                                      Parte II

Certa noite, ao chegar em casa, visivelmente incapacitado para encontrar explicações plausíveis sobre o meu anjo, sem bases teológicas suficientes, desisti de pensar e resolvi perguntar ao universo.
Cada esquizofrênico tem suas manias, e eu tinha as minhas.
De madrugada, na cozinha, bebendo minha caipirinha e preparando o meu jantar, um sentimento aflorou.
Perguntei ao meu anjo:
— Quem é você? Como posso lhe classificar? Qual é a sua função? Qual a diferença entre você e os meus outros guardiões? — e me extasiei.
Mas me extasiar não quer dizer que enlouqueci.
Mas também nunca disse que sou louco.
Sempre afirmei que sou um romântico sonhador, vivendo num mundo maior do que o meu.
Sempre controlei minha criatividade, abafei meu delírios, mas isto estava cada vez mais difícil de se manter.
Sempre tive medo de enfrentar o desconhecido, de errar.
Sempre evitei dizer certas coisas sem nexo que alimentavam meu coração, abrir minha mente, e ousar.
E digo a todos os que têm medo de ousar e expor-se ao ridículo: Ousem, não tenham medo de ser imbecis.
E reenvio esta mensagem para mim mesmo, que não aprendi bem certas lições.
Mas neste dia eu já estava cansado de pensar o era certo, e de usar a razão para me controlar.
E liberei meu mundo para um outro ser de um outro mundo me explicar.
Nesta madrugada eu estava sozinho, sonhando apaixonado.
E o meu espírito aproveitava a oportunidade, e a minha intuição emergia, e eu delirei.
Meu anjo me disse:
— Faça o que você quiser, mas antes te aperfeiçoe e te ilumine que eu te protegerei.
— Mas como você irá me proteger Tzadkiel?
E Seu nome surgiu naturalmente, sem eu o perguntar, como o fiz anteriormente com Uriel.
E Tzadkiel me falou:
— Eu te protegerei com a minha força e o meu poder. Sou um enviado de Deus, e este é o meu dever.
— E o que Ele te ordenou Tzadkiel?
— Ele me ordenou para que te protegesse e cuidasse de ti. Ele me ordenou para que te guardasse por todo uma vida. E se hoje estou aqui na tua presença é porque você me chamou. De agora em diante estaremos mais próximos. Nenhum mal te acontecerá. Não te preocupes, eu te defenderei!
E uma força indescritível desceu sobre mim, a ponto de fazer-me chorar sem parar.
E na solidão de minha cozinha, na sofreguidão, eu me emocionei.
E percebi que este anjo, neste momento, não portava espada em sua mãos.
E sua intensa energia desesperava-me e sua grandeza me diminuía.
Perguntei emocionado:
— Mas como um ser espiritual poderá me proteger?
— Eu sou o seu guardião, o único de seus amigos que tem poder sobre a matéria!
— E quem é Uriel? E quem é Clara, Tzadkiel? Quem são eles afinal? Qual a diferença entre vocês?
— Uriel e Clara são espíritos irmãos que vieram te ajudar, te orientar. Mas eu sou o teu protetor, o único que poderes para te defender nesta Terra.
— Você pode atuar no mundo físico Tzadkiel?
— Posso!
— Pode me desviar de um tiro?
— Posso!
— Pode me livrar das agressões?´
— Posso!
— Mesmo que sejam de muitos?
— Com certeza que sim!
E, num delírio visionário, um exército inimigo caia ante suas mãos.
E as respostas do meu anjo chegaram assim, numa madrugada solitária e silenciosa, sem ao menos eu expectar por sua presença, sem ao menos eu lhe perguntar o seu nome.
E quando eu lhe pedi que se aproximasse mais, ele se negou, dizendo-me que eu não o iria suportar, que eu ainda não estava preparado para o receber e que ainda tinha muito o que aprender.
E uma força indescritível desceu sobre meus ombros.
E, aos prantos, emocionado e descontrolado, ouvi Tzadkiel me orientar:
— Prepare-se meu filho! Prepare-se para me receber! Quando chegar a hora eu me aproximarei e te mostrarei minha força e o meu poder.
E Uriel, meu amiguinho espiritual, que antes falava-me sem cessar, calou-se ante ao poder e o amor deste anjo, e não soube o que me dizer.
Percebi que Uriel que felicitava-se por mim.
E que ele e Clara sorriam tão comovidos quanto eu, mas que Tzadkiel estava sério.
E defronte o poder deste enviado Amado, todas as vozes se calaram, todos os medos se perderam, porque nós sabíamos que este anjo vinha de Deus, que era um dádiva de Deus.


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